segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

R.I.P. - V

Era uma das 'postas' mais indesejadas e temidas.

A notícia que não se quer dar, muito menos digerir, depois de nos ter oferecido um álbum tão bom, no dia do seu aniversário. O deus David Bowie deixou-nos, ontem, aos 69 anos, vítima de um cancro, com o qual batalhava há 18 meses.

A desconfiança e o temor de que algo não estaria bem, já se arrastavam desde 2004, quando surgiram sinais de um estado de saúde complicado. Bowie cancelou digressões, remeteu-se a longos períodos de silêncio, que eram interrompidos por breves aparições aqui e ali. Rejubilámos em 2013 com a edição de "The Next Day". Sem esperarmos, o camaleão regressava e (en)cantava. Ainda havia homem, ainda havia tanto talento. Menos de três anos depois presenteou-nos, e a si próprio, com "Blackstar", o álbum que, sabemos agora, é o seu adeus a esta vida.

Falar-se-á imenso de David Bowie nos próximos tempos, escamotear-se-á toda a obra e carreira. Músicos, jornalistas, críticos e fãs darão o seu contributo com artigos, textos, declarações, desabafos – uns mais sentidos que outros – e parvoíces (como esta que escrevo). As redes sociais serão inundadas de comentários (muitos totalmente descabidos, outros puramente estúpidos) e milhares de novas visualizações da obra do artista serão feitas nos Youtubes&Afins. As editoras reeditarão tudo o que tenha "Bowie" escrito na etiqueta da gravação e, com alguma sorte, coisas esquecidas serão recuperadas e editadas. É a parte normal da celebração de despedida de um artista deste calibre.

Mas haverá também a parte anormal da coisa: o fenómeno celebridade sentida – sabemos bem a porcaria que gosta de vir ao de cima nestas alturas. A celebridade rastejante gosta de opinar sobre falecidos, tecer os maiores e mais rasgados elogios, mesmo sem perceber patavina daquilo que fala. Basta fazer um zapping pelos canais televisivos nacionais e internacionais. Muitos deles nem sabem pronunciar "Bowie" (é "Boui" e não "Baui"), quanto mais falar da influência deste e da sua obra. Mas tudo isto faz parte do circo que é o século XXI.

Era uma das 'postas' mais indesejadas e temidas, mas aqui está ela. Encerramo-la como ele encerrou o seu último álbum de originais: "I Can't Give Everything Away".

Deus Bowie morreu. Viva o deus Bowie!



I know something is very wrong
The pulse returns for prodigal sons
The blackout's hearts with flowered news
With skull designs upon my shoes

I can't give everything
I can't give everything
Away
I can't give everything
Away

Seeing more and feeling less
Saying no but meaning yes
This is all I ever meant
That's the message that I sent

I can't give everything
I can't give everything
Away
I can't give everything
Away

I can't give everything
I can't give everything
Away
I can't give everything
Away

(...)

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