Escrever sobre os nossos ídolos é tramado. Caímos sempre na lamechice, no elogio fácil e exagerado, e deixamos o nosso gosto sobrepor-se imediatamente a qualquer outra opinião ou tentativa de esboçar uma contrária à nossa. Dito isto, vou passar a batata quente a um funcionário da BBC, que é sempre gente honesta e imparcial. Não fosse ele também um comediante.
Senhoras e senhores, com vocês, no programa "Art that shook the world", um dos poucos génios musicais vivos do século XX, Brian Wilson e os seus rapazes da praia.
Este documentário é de 2002. Muita coisa mudou entretanto. Brian Wilson estabilizou a vida e a carreira, conseguiu superar alguns dos dramas e fantasmas do passado que o atormentavam. A aguardada reunião dos Beach Boys realizou-se no ano passado, com a gravação de um álbum novo e subsequente tour, mas a cereja no topo do bolo, foi o desvendar do "Santo Graal" da música moderna – a edição do álbum esquecido "SMiLE". Não é exagero a denominação de "Graal". Todas as histórias (e posteriores especulações e mitos) que envolveram a gravação desse álbum, que levou à loucura e desgraça de Brian Wilson, são dignas de um filme do Orson Welles. Mas dos bons, tipo Citizen Kane! As demos originais de "SMiLE" foram guardadas durante décadas no cofre da Capital Records. Só em 2004 e com o apoio do letrista das músicas de "SMiLE", Van Dyke Parks, e do músico Darian Sahanaja, dos Wondermints, Wilson regressou às canções que tinha composto e deu-lhes o formato final que é "Brian Wilson Presents SMiLE".
Finalmente em 2011, Wilson ganhou coragem de rever as demos das gravações do "SMiLE" de 1967. Assim surgiu "The SMiLE Sessions" dos Beach Boys, a tentativa possível de dar algum formato final a essas mesmas gravações, com a edição em bónus das referidas demos. Foi o desvendar do mito, o "Graal" revelado aos crentes e descrentes, para o bem e para o mal.
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