Para fechar a semana em beleza, um regresso ao melhor álbum de 1998: "Deserter's Songs", dos Mercury Rev. Da banda que, em 1993, enquanto tocava no palco secundário do festival Lollapalooza, foi acusada de ter o volume alto demais (para não falar no ruídoso demais) e a roubar protagonismo às bandas do palco principal (olá, Tool), tendo sido literalmente arrastada para fora do palco e o som desligado à pressa, até à rendição global por parte da crítica musical e fãs à genialidade do "Deserter's Songs". E tudo graças a uns tipos ingleses, que ficaram fãs aquando da primeira audição do álbum e o decidiram promover junto de toda a imprensa especializada que conheciam. Quem são esses ingleses, perguntam vocês? Uns arruaceiros quaisquer chamados The Chemical Brothers.
"Deserter's Songs" era para ser o álbum de despedida dos Mercury Rev. A banda estava em fase de desintegração, falidos, com problemas de drogas, relações terminadas, sem baterista, o guitarrista fugido para um mosteiro, o vocalista e mentor Jonathan Donahue tentava recuperar de depressões agudas e, como cereja no topo da desgraça, estavam sem editora. Era preciso pegar em toda esta loiça partida e voltar a colar os cacos de alguma maneira. Toda a energia negativa acabou por ser canalizada de uma forma surpreendente nas gravações das primeiras faixas do álbum, que decorreram nas montanhas Catskill, no estado de Nova Iorque, onde Donahue e o guitarrista Sean “Grasshopper” Mackiowiak decidiram reatar a amizade de longa data e dar mais uma oportunidade à banda. É certo que contavam com outra personagem única da música alternativa norte-americana na banda, Dave Fridmann. Na altura, Fridmann era o baixista da banda e dava os primeiros passos como produtor. E, no processo de recuperação da banda, descobriram que tinham como vizinhos os músicos Garth Hudson e Levon Helm, dos The Band, que, voluntariamente, deram uma mãozinha em algumas canções. Daí em frente a banda lá se endireitou e concluíram as gravações de "Deserter's Songs", que teve as suas "masters" gravadas em película de filme de 35 mm, bizarria sonora que Dave Fridmann explicou dizendo que this unique process gave the music an intentionally “weird sound”, while enhancing the “cinematic bent” of the music. O álbum foi editado pela V2, que, na altura, decidiu arriscar a contratar os Mercury Rev, apesar do passado tumultuoso da banda.
O resto é história, com o álbum a ser elogiado, tocado e vendido mundo fora. Até cá tivemos uma música de "Deserter's Songs", a faixa "Endlessly", a rodar loucamente como banda sonora de um anúncio de uma operadora de telecomunicações.
Termino esta declaração de amor a "Deserter's Songs" com "Opus 40", um dos singles do álbum, que teve direito a video realizado por outro tipo desconhecido, um tal de Anton Corbijn.
Bons sonhos.
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